Antonio Gonçalves*

 

Desde sempre, nós brasileiros e brasileiras escutamos que 'este país só irá melhorar quando investirmos na Educação'. O que parece uma contradição – o contingenciamento de verbas e a crescente falta de investimento no sistema de ensino - é, claramente, um projeto. O corte dos gastos ao ponto do sufocamento não pode ser visto com ingenuidade, como uma necessidade de enxugamento de despesas públicas. Antes, é parte de um projeto de desmonte de políticas públicas.

Evidenciado em diversas frentes, este projeto do ´posto ipiranga´ visa, exatamente, desabastecer a visão de um futuro mais justo, solidário e igualitário. Ironicamente, o conjunto de desregulamentações que enfrentamos hoje compromete fortemente o próprio futuro, aí sim atuando indiscriminadamente em todos os estratos sociais e graus de escolaridade, ignorando questões etnicorraciais, de gênero e diversidade sexual.

As queimadas na Amazônia, que comprometem os tempos vindouros do conjunto da humanidade, se aproximam do desmanche da Educação na medida em que simbolizam os estertores de um sistema que agoniza. Como um doente que experimenta uma súbita melhora, vendo o fortalecimento das suas funções vitais para em seguida sofrer o declínio final, a crise do capitalismo é hoje refletida em ataques violentos a ponto de comprometer a própria sobrevivência.

Se o projeto do atual desgoverno é fazer a sociedade perder o controle dos acontecimentos, o que vislumbramos no horizonte é o fim do direito de decidir. Hoje, Dia da Democracia, tememos pela perda dos termos que compõem esta palavra tão mais citada do que utilizada: o poder do povo de escolher seus representantes, liberdade de expressão, liberdade de ensinar e aprender estão sob grave risco.

Seja pela profusão de notícias falsas, pelas ameaças constantes que causam medo e provocam reações desmedidas, seja pelas arbitrariedades, a democracia está em perigo. O mesmo perigo que corre a nossa floresta tropical, a Educação, o nosso futuro. Contra este projeto que parece intempestivo mas é, na verdade, um conjunto de ameaças bem orquestradas, resta-nos bem mais do que esperança. Resta-nos o poder de resistir.

  

*Presidente do ANDES Sindicato Nacional